Semanas atrás, descrevia alguns sonhos recorrentes que estava tendo para minha psicóloga, quando no final da sessão, ela me disse (no meio de um monte de outras coisas) que muito provavelmente as minhas dificuldades também refletiam problemas com o meu “animus”, o arquétipo masculino na mulher.
Memorizei com facilidade aquelas palavras, fiquei balançando a cabeça enquanto ela me dizia mais um tanto de coisas, e me entreguei às pesquisas, pois havia sido uma sessão dura, na qual havíamos tocado em dificuldades minhas muito profundas. Me pareceu que aquele termo desconhecido poderia encerrar em si alguns segredos que me poupariam de ser culpada por ser quem sou.
Spoiler: isso nunca acontece. Por mais que a gente queira muito uma descoberta apoteótica que mudará a gente para sempre, e nos tornará finalmente maiores que nossas fraquezas, a maior parte do tempo é analisar com a vista nebulosa, encontrar aqui e ali uma possibilidade de resposta, se agarrar a ela durante um tempo, segui-la, e quando não for mais conveniente, seguir outra.
Mas eu tentei, não é mesmo? E vasculhei essa internet atrás de conhecimento sobre esse arquétipo, o que me rendeu de quebra, um pequeno “glossário” de termos psicanalíticos junguianos com os quais eu jamais havia tomado contato até então. Entendi melhor, primeiro de tudo, o que era um arquétipo, a questão do inconsciente e subconsciente nessa abordagem, e aí sim, fui para o meu arquétipo dominador, o Animus.
De tudo que lera, nada me chamou mais a atenção do que este texto aqui, em que a autora revisou diversas literaturas, porque o próprio Jung deixou pouca coisa sobre esse arquétipo escrita – ele mesmo reconheceu a dificuldade que seria descrevê-lo.
E ao ler, fui me identificando com inúmeras passagens: sobre os sonhos em que o Animus se manifesta (e que tive incontáveis vezes ao longo da minha vida adulta, o do tribunal de homens), e sobre diversos impulsos do inconsciente em que este Animus vai se manifestar.
Ao ler o texto, que recomendo fortemente a leitura se este assunto te parecer interessante, me vi reconhecida em momentos passados, e em alguns momentos presentes, com o meu “problema de Animus” se manifestando: o constante hábito de me remoer sobre fatos passados e presentes, a dificuldade em me sentir satisfeita com tudo (literalmente, inclusive, com a fome), a falta de definição dos propósitos mais importantes da vida, um estado de dormência a respeito do que precisa ser feito…
A mulher nesse estado, mesmo sendo extremamente detalhista, quando confrontada a respeito de seus objetivos mais profundos simplesmente não consegue defini-los. (eu todinha, neste aspecto).
E como faz pra sair dessa?
Na realidade, toda a extensa descrição deste processo (tanto o problema, como a solução) são de caráter extremamente íntimo, difícil de descrever de maneira simples. Se dá grande parte no inconsciente, dando espaço para o inconsciente também atuar, compensar uma mulher com o seu coeficiente masculino (independente de estereótipos de gênero).
No meu caso, resolver o meu “problema de Animus” passa por abandonar a necessidade de controlar aquilo que é incontrolável, permitir que minha subjetividade e minha intuição apareçam, e construir – criar coisas palpáveis. Confesso que trabalho nisso constantemente, e enfrento dificuldades constantes: tentando controlar o que não está sob controle, criando para mim mesma planos desconectados de minha verdadeira necessidade/vontade, e criando muito pouco daquilo que é tangível.
Escrever este blogue é uma tentativa de ajudar o meu Animus a se acomodar aqui dentro de maneira mais confortável no meu inconsciente. Essa postagem, mesmo, exigiu leituras e pesquisas extensas, e nem sei se fez sentido a alguém. No seu devido tempo, poderei compartilhar também como, na prática, tenho tentado estabelecer objetivos e metas adequados a isso.
Se mais alguém é psicoterapeuta, estudante ou apenas curiosa do tema, vamos conversar sobre isso? A temática é fascinante e rende muito autoconhecimento!
Ei, Thais! Gente! Lembro muito dessa sensação, quando fazia terapia, de ficar esperando o grande momento revelador que ia mudar tudo. E realmente ele não chega… Mas a gente vai mudando aos pouquinhos, tomando consciência de algumas coisas… É muito sutil, mas não deixa de ser impactante, só não é assim de uma vez. Você também sente isso? Claro que eu não sou especialista. Só tenho a minha experiência como parâmetro. Mas me identifiquei um pouco 🙂
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Verdade Fernanda, quando eu olho para mim mesma desde o início da terapia, eu percebo o quanto já avancei, e por isso até rio de mim mesma quando estou lá, falando de perguntas e respostas/revelação, esperando por elas. Mas é sempre bom retomar e pensar nisso, né?
Beijão!
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[…] sobre a discussão do meu “problema de animus”, que rendeu várias sessões de terapia (e eventualmente ainda citamos), me ocorreu num certo dia […]
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[…] Arquétipo animus – amei falar sobre esse tema, quando minha então psicoterapeuta me apresentou a esse conceito junguiano; […]
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