Hoje não tenho respostas, pois há tempos que sou só perguntas.

Quando você tem uma condição autoimune, você trai a si mesma. Porque seu corpo luta contra ele mesmo. E no bingo da autoimune, raramente você leva um prêmio só: num ciclo vicioso infinito, uma doença engatilha na outra, e é por isso que raramente uma pessoa tem um problema só. É uma loteria que você entra para perder, sabendo que tem bilhete mínimo, mas não existe o máximo.

Quem tem condição autoimune brinca todo dia de um 7×1 diferente. Tem mês que o sintoma é azia, tem mês que a gente não percebe que não dorme bem, tem mês que pega uma infecção atrás da outra, tem mês que a menstruação não desce (e fertilidade você pode contar que passa longe), tem mês que dói o pulmão, falta o ar, quase sempre falta a energia vital tão necessária para levar o dia-a-dia.

A irritabilidade, pouca paciência, reflexo baixo, demorar uns segundos a mais pra responder, sentir-se traída pela capacidade de raciocinar, é meio que constante. Você fica mais confortável sozinha, se puder responder às pessoas com tempo, por escrito, as decisões mais simples demandam um pouco mais de planejamento do que o usual. Você quer muito desenrolar tudo mais rápido, porém simplesmente não consegue. Se conseguir, sai toda esfolada no final.

Concomitante a essas condições, você lida com exames, injeções, cápsulas diversas em diferentes horários, medições constantes de indicadores, e também com a sua própria vontade de melhorar. A ansiedade em estar bem, em não sentir nenhum sintoma indesejável e poder, simplesmente, ser quem é, ir onde quer. Mas você pensa nisso, e isso meio que vira você toda. Principalmente, se algo soa o alarme amarelo – nem precisa ser o vermelho.

Daí você questiona tudo: todo o esforço que faz, se procurou as pessoas certas, se tomou as decisões certas, e nunca sente que fez o certo. Se optou por uma intervenção mais agressiva, pensa que deveria ter se esforçado um pouco mais pela via do estilo de vida. Se optou por tentar mexer no estilo de vida, pensa que deveria ter tomado remédios mais fortes logo de cara.

Você olha ao seu redor, pessoas notoriamente descuidadas de si próprias, nem aí para os próprios sintomas, e se pergunta se não seria melhor ser uma delas. E não ligar pra si mesma, deixar tudo desmoronar aos poucos, pelo menos, não viveria constantemente preocupada e aflita.

Hoje, depois de mais um looping ladeira abaixo após resultados medíocres para esforços sobrehumanos, estou tentando tirar o zoom dos resultados e pensar nos esforços. É muito esforço, e muita força para se manter nadando, com a correnteza toda contra. É muito fôlego! É muita água engolida, muita vontade de chegar.

Eu definitivamente, mereço uma medalha. Porque nadei muito, e não tinha nada a meu favor. Não é à toa que não cheguei no fim da prova… Nadei para outro lugar. Mas não deixei de nadar. Mesmo ontem, mesmo anteontem, quando recebi as notícias dos exames. Mesmo hoje, ainda inconformada. Querendo pedir a “recontagem”, como se fosse uma competição mesmo. Só que é minha, comigo mesma.

Vou ter que aprender não só a superar os revezes de imunidade e os déficits. Tenho que aprender a ter humildade e reconhecer que minha linha de chegada fica em outro ponto. Do contrário, como vou ser feliz? Como pode ser feliz e sentir-se bem uma pessoa que se considera de segunda linha por não responder como “todo mundo”?

Hoje não tenho respostas, porque há tempos que sou só perguntas.

 

Um comentário em “Hoje não tenho respostas, pois há tempos que sou só perguntas.

  1. realmente dificil viver aflita e mesmo tomando cuidados e se alimentando bem ,não responder de imediato ao tratamento .mas persistência que vai dar td certo . Saúde e Paz !

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