Destralhando meu apartamento.
Isso sempre foi difícil pra mim, que vivo num improviso cheio de heranças da mudança dos outros, muquirana em assuntos de compras para casa (naquele eterno dilema do quanto investir numa casa alugada…), me virando com o que é mais fácil, barato, disponível.
Fui me desfazendo de sofás, tapetes, utensílios, tudo o que pudesse ser retirado sem mais do que um pensamento. Outro dia, ataquei meu guardarroupas, me livrando das coisas que não servem, têm modelo legal mas cor ruim, calçados desconfortáveis (a vida é muito curta para calçados desconfortáveis, então não uso).
Cheguei à cozinha: traquitanas chinesas sem muita função, utensílios duplicados (triplicados, quadruplicados até), fora. Ingredientes que não comprei mais, por perceber que não uso, e num arroubo completo de desapego, me livrei de toda a minha coleção de panelas Le Creuset e dos meus eletrodomésticos da Kitchen Aid.

Aqui, vou até fazer mais uma digressão para comentar.
Quando iniciei a consumir conteúdos sobre gastronomia e culinária, imediatamente desenvolvi esse amor platônico. Então quando minha mãe me doou todos estes itens, antes de ir embora do Brasil (mais uma herança de mudança…), enlouqueci e pensei que seria incrível. Era o que faltava na minha cozinha para tudo ficar maravilhoso e impecável.
A verdade, no entanto, é que as panelas são extremamente pesadas, e que eu gosto de panquecas, flambados, refogados em que você manuseia a frigideira ou o wok. Risco de acidente grave ou fatal, ali.
Já os eletrodomésticos, risco de perder um membro se cair no seu pé, ou um dedo desavisado passar pela lâmina do multiprocessador, mesmo que seja para lavar. E honestamente, hoje em dia eu asso brownies, bolos de banana, bato umas claras em neve, e olhe lá. Não preciso de uma batedeira planetária de 2000watts de potência, que usei raras vezes quando fiz pão-de-ló para bolos de aniversário (ou daquela vez que moí 1,5kg de filé mignon para servir muito steaktartare no meu aniversário).
Não dava mais para acomodar dentro de casa utensílios pesados, caros e de grife, apenas pelo apego. Devolvi-os aos meus pais, que os levaram para o sítio, e sigo com minhas panelas de inox e fundo triplo, seguras porém leves, uma batedeira simples, um liquidificador muito potente para minhas necessidades (900watts você já bate muita farinha de amêndoas nele e faz leite de coco sem cheiro de motor queimado)… e um mixer da Kitchen Aid, que uso sempre, porque é muito prático (embora você também corra risco de se acidentar, com a lâmina).
Fechado este parênteses, quero falar finalmente do assunto desse post, que são meus livros de culinária. Sabem, eu consumo receitas e programas de receitas e livros de receitas e sites de receitas muito antes da febre recente de Chef’s Table e GNT ter seus próprios programas.

Eu anotava receitas do Mais Você, correndo entre escrever o que Ana Maria dizia, e visualizando no vídeo o que era para fazer. Eu leio o “Tudo Gostoso”, desde que era a principal referência na internet para pesquisar alguma técnica. Eu compro livros de receita, porque houve um tempo em que se você quisesse executar uma técnica apresentada pelo Jamie Oliver na televisão, você ia precisar do livro dele.
Eram caríssimos, os livros. Verdadeiras jóias para se ter em casa. Era difícil entender um passo-a-passo por escrito, de algo tão sensorial (coisas do tipo “bata até obter uma textura clara e leve”), e ainda por cima traduzido, inúmeras vezes, com erros de tradução (especialmente na medida dos ingredientes).
Nada disso jamais me desanimava, no entanto, porque eu considerava aquele Universo riquíssimo, mágico, impressionante. E fui amealhando meus tesouros, conforme minha condição ia permitindo, e os livros também iam se popularizando e barateando.
Hoje em dia, não vejo razão alguma para alguém comprar um livro de receitas. Você não só encontra todas elas na internet, como ainda, não-raro, encontra um passo-a-passo em vídeo, super bem editado, que facilita demais a execução dos pratos. Cara, você inclusive pode escolher por tema!
Se você gosta de italiana, francesa, oriental, árabe, vegetariana, vegana… não tem problema. Você terá alguém habilitado a lhe ensinar os rudimentos daquele estilo de culinária, dar dicas de ingredientes, utensílios, preparos.
Eu mesma, quando quero preparar uma receita específica, vou nos meus sites de confiança, leio e executo a partir do meu celular, bem mais prático e portátil na cozinha. Quando quero inventar algo, e não seguir exatamente o que diz na receita, eu leio umas 3-4 diferentes, e customizo a minha própria.
Por tudo isso, chegou a hora de me desapegar de meus livros. E vocês não têm ideia do quanto isso me incomoda, e do apego que ainda tenho por eles.
Porque são lindos livros, sabe? São livros grandes, pesados, de capa dura, com fotos maravilhosas, alguns com textos inspiradores, e encerram também a sua promessa de execuções, de um modo de vida.
Mas em 2018 não cabe mais em minha casa uma coleção de livros pesados que não são abertos. E por isso, quero doá-los, mantendo comigo somente aqueles que ainda há alguma esperança de serem lidos, e suas receitas, consultadas.
Se você leu essa postagem até o final, e quer algum livro, por favor pense bem se vai efetivamente usá-los. Se for pra ficar na sua casa igual ficam na minha, por favor, passe adiante.
Prometo, também, que não compro mais. Isso é verdade, não compro mais livros de receita há um bom tempo, mas eventualmente ganhei alguns, que se não forem úteis, vão embora.
Eu moro em São José/SC, por isso, o peso dificultaria que pessoas o recebessem pelos Correios, o frete ficaria caro e, bem, eu não quero pagar frete. Já estou me desfazendo sem pedir um centavo em troca, então, o esquema vai ser semelhante a outras “rapas” que já fiz. Quem pegar primeiro, pegou.
Em língua estrangeira:
Ricette Senza Grassi, Purificanti e Disintossicanti – Megan Gilmore (em italiano, não entendo quase nada, mas tem uma filosofia alimentar muito distante da minha, sem gordura, etc)
Beyond the Bread Basket – Eric Kayser (em inglês, receitas para acompanhar com pão, não só sanduíches, excelente referência para quem quer ser criativo nos lanches e almoços rápidos)
Em português:
Nigella Express – Nigella Lawson (usei muito, as receitas são fáceis e possíveis – também foi o primeiro livro de receitas que comprei na vida!)
Nigella Verão – Nigella Lawson (como o próprio nome já diz…porém, o que é abundante no verão dela, é bastante diferente do nosso, ainda assim, muita coisa se usa de inspiração)
Na Cozinha com Nigella – Nigella Lawson (achei que seria maravilhoso, mas é ok, um compêndio de básicos e alguns pratos mais avançados, porém, não preciso dele)
Jamie Viaja – Jamie Oliver – (livro lindíssimo, porém, acho pouco exequível, não combina com meu paladar, e só comprei porque era o mais barato de Jamie na loja naquele dia)
Cozinhar Ficou Fácil – Gordon Ramsay (simples, bom, cheio de ideias de combinações gostosas, serve tanto para fazer à risca, quanto para se inspirar)
Cozinhando sem Desperdício – Lisa Casalli (comprei para conhecer o mecanismo apresentado de como aproveitar partes comumente não usadas dos alimentos, mas não me acrescentou novidades, talvez alguém menos iniciado na temática curta)
Bela Cozinha I e II – Bela Gil (excelentes livros, receitas, e ideias, porém, quando quero uma receita da Bela, vou na internet e acho em 2 cliques)
Livro de Receitas Paleo – Irena Macri (receitas interessantes e inspiradoras, mas novamente, para mim, é mais do mesmo – já cozinhei demais para este livro efetivamente me surpreender)
Não pretendo doar por enquanto meus livros da Rita Lobo, David Lebovitz e o Comida de Verdade, mas só porque estão em fase de testes, na berlinda. Então quem sabe, hora dessas, entrem também no rolo.
Republicou isso em Memórias ao Vento.
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Pena que moro tão longe !
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