Visitando um amigo querido, encontrei nas estantes dele o livro Presos Que Menstruam, título auto explicativo – a realidade carcerária das mulheres no Brasil. Recomendo muitíssimo o livro por várias razões, mas um capítulo em especial, me deixou com uma curiosidade mórbida: o capítulo chamado O Efeito Suzane.
A autora conheceu a Suzane Von Richtofen, famosa por ter planejado o assassinato dos próprios pais, uma célebre psicopata, que no presente momento, caminha para o regime semiaberto. E, no capítulo em questão, a autora fala de como Suzane é absolutamente encantadora, atenciosa, e que num espaço de 2h, o nome de Suzane e a palavra perfeita estiveram juntas em 4 falas diferentes. As pessoas, embora saibam do que ela é capaz, não conseguem deixar de reconhecer o quão impecavelmente sedutora ela é – daí o Efeito Suzane.
Não consegui seguir a leitura adiante sem ir pra internet rememorar lances do caso, que foi um escândalo atrás do outro na época. Inclusive, o livro menciona e matérias confirmam, que Suzane também tem uma extensa lista de pessoas com quem se envolveu, a quem seduziu, pessoas de todos os níveis intelectuais e de influência, que tornaram a sua vida na prisão mais suave, por assim dizer. Hoje ela é a pessoa de confiança da unidade fabril que funciona dentro do presídio em que se encontra.
Toda vez que aplicam nela o questionário da escala Hare, que mensura com itens comportamentais o grau de risco que o psicopata oferece, o seu score continua altíssimo.
Disso, uma coisa levando à outra, assisti numa sentada só a série You, do Netflix, contrariando um preceito meu de não ver o que todo mundo está vendo ao mesmo tempo que todo mundo está vendo. Mas me vi igualmente envolvida e fascinada pela possibilidade de ter uma janela para dentro da mente de um psicopata, ainda que fictício.
Estou lendo o único livro em português relativamente atual sobre o assunto, o Mentes Perigosas – e confesso que não gostei, achei meio “igrejeiro”, alarmando e alertando as pessoas como se fosse uma avó cuidadosa, mas sem discorrer sobre o funcionamento dessas pessoas no cotidiano. Tem alguns relatos de caso, no entanto, que ajudam a concretizar em exemplos.
Uma coisa que esse livro explica e, talvez, resolva essa minha insatisfação, é o fato de que não há um bom psicopata disposto a colaborar voluntariamente para a construção do conhecimento a seu respeito. Assim, os únicos a serem relativamente estudados, são aqueles que foram presos, e o que o livro aponta, é que a esmagadora maioria dos psicopatas não chegam ao extremo de matar alguém, e nem sempre são presos por isso.
Sigo fascinada pela temática e procurando formas de me aprofundar a respeito. Tem horas que desconfio da psicopatia de algumas pessoas com quem já convivi. Teve horas, vou confessar, que me perguntei se eu mesma não poderia ser uma psicopata, ainda que não tenha matado ninguém. É que as características atribuídas são todas comportamentais e mensurá-las exige uma régua inexata, em que as sutilezas do que é aceitável para mim, pode não ser para você.
E sigo investigando o tema, a título de hobbie, e aceitando indicações, se alguém as possuir.
Oi! Por conta de uma pessoa que conheci em meados do ano passado, conectei alguns comportamentos e descobri certas coisas sobre ela, me peguei pesquisando esse tema. Tive os mesmos questionamentos que você, e também a mesma impressão sobre o livro “Mentes perigosas”. Sinto isso tudo como algo perturbador, não me vejo lidando com as pessoas da mesma forma que antes. Isso que você contou da Suzane me surpreendeu, não consigo imaginar como depois do que ela fez possa ser considerada alguém de confiança ali. Comenta mais sobre suas pesquisas no futuro, se possível 🙂
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Oi Flavia!
Pois é, mas ela tinha a confiança não no sentido mais amplo, e sim, confiança de que era competente no trabalho, mantinha a oficina organizada, etc. Porque ela tem grande capacidade de se ater aos detalhes, coisas que nem sempre nós estamos observando… louco demais! Minhas próximas tentativas serão artigos acadêmicos 🙂
Beijão
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Oi Thaís! Muito bom o seu texto. O caso Suzane é mesmo emblemático e para mim o perfil clássico do psicopata que não suja as próprias mãos, mas é habilidoso para manipular as pessoas.
Também quero ler mais sobre o assunto, existem outros livros e mais técnicos imagino, ainda que esse assunto no Brasil engatinha. Observo que as nossas autoridades não sabem muito bem lidar com esses indivíduos, quanto mais nós, os leigos.
Quero ler esse livro que você citou no início, obrigada pela dica.
Depois, vou deixar dois links nos comentários que podem te interessar: 1 – uma palestra sobre psicopatia da Ana Beatriz e outra psiquiatra na comissão de direitos humanos na câmara dos deputados e 2- um dos tantos vídeos sobre assunto de outra psiquiatra brasileira, a Cláudia R…
Até mais.
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