As férias e (a volta d)as pessoas

Já contei algumas vezes que estou me tratando de depressão, e esse é um processo desigual e combinado. Tem horas que me sinto super melhor, mas na maior parte do tempo, ainda me sinto muito exaurida pela interação pessoal, e com muita dificuldade de sair de casa.

Isso levou a que eu tenha passado o primeiro semestre inteiro praticamente sem sair de casa, excetuando-se a casa de meus pais (que é mais ou menos minha casa também).

Então, as férias chegaram, e nos primeiros tempos, corremos sozinhos, eu e o boy – Curitiba, São Paulo, Buenos Aires. E quando voltamos para São Paulo, algo curioso aconteceu.

No primeiro dia, uma de minhas melhores amigas estava lá a trabalho, e acabamos encaixando um almoço de 50min, antes do horário dela ir embora. Importante: moramos na mesma cidade, e não nos víamos há quase 3 meses.

Na noite seguinte, recebemos para jantar a irmã de outra de minhas melhores amigas: somos tão ligadas uma à outra, que mesmo quando não estamos na mesma cidade, ela visita minha mãe, e eu faço o mesmo com a sua. E ninguém achou estranho minha mãe convidar sua mãe para jantar em São Paulo. Deixei meu celular carregando no quarto, enquanto papeávamos longamente, durante muitas e muitas horas.

Na tarde seguinte, eu já estava totalmente atrasada com um prazo do meu freela, e não havia direito onde trabalhar no apartamento de meus pais. Minha melhor amiga, que atualmente mora e trabalha também em São Paulo, disse que eu poderia ir com ela trabalhar num arranha-céu na Paulista. Fizemos um almoço de ovos e cogumelos (ela é vegetariana), seguimos para o trabalho (dela). À noite, saímos os dois casais para jantar na Vila Madalena.

Observei e comentei curiosa, que há meses não via tanta gente assim, de uma tacada só. E que aquilo, curiosamente, me fizera bem.

Havia também, semanas antes, ouvido um podcast antigo, do Mamilos, sobre depressão. E a prevalência estatística de bons relacionamentos como fator de proteção. Como era importante insistir consigo mesmo para sair do isolamento, porque no final, o resultado seria mais benéfico.

Ao voltar para casa, engolida pela rotina do trabalho, e mais um monte de coisinhas para fazer em casa, vi que já estava começando a enveredar pelo mesmo caminho.

Aí, outra grande amiga minha, que mora em BH (curiosidade: morei em BH em 2009) está grávida e marcou o seu chá de bebê. Juntei meus trocados, parcelei em muitas vezes uma passagem caríssima e fui – não para o chá, que os horários não batiam, mas passar dias com ela e as outras meninas.

Apertei sua linda barriguinha de 36 semanas. Abrimos juntas todas as gavetinhas e cheiramos as coisinhas da bebê. Conversamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Enquanto ela trabalhava, passeava com Natasha. Achamos que não era problema nenhum tomar uma cerveja 10h da manhã no Mercado Central. Passeamos, vimos exposições, conversamos longamente. Quando chegou mais um, a conversa só se enriqueceu.

Jantamos duas vezes na mesma noite. A conversa estava ótima. No dia seguinte, fomos para Contagem ver quem não tínhamos visto ainda, e depois de almoçar, trocamos de lugar. Um boteco. Coincidências de Contagem: enquanto almoçávamos, passou por nós o Theo, que ninguém via fazia duzentos anos. Ele estava indo à casa de Aline fazer fotos dela. Ao terminarem as fotos, Aline chegou. Cheia de produtinhos naturais que está fabricando por conta própria. Minha amiga que se propaga antissocial e é totalmente abstêmia, ficou até o final.

Falando no carro sem parar, chegamos em casa. Falamos, e falamos e falamos. E após tudo o que falamos, faltava mil outros assuntos.

Cheguei aqui. Minha mãe precisou vir, trouxe consigo sua fiel escudeira. Falamos e conversamos durante mais de 36h. E quando cheguei em casa, vi que aquela minha amiga, sabe? A primeira que encontrei em São Paulo? Ela está de férias. Pensei em programar algo pra fazermos. Não tomei a iniciativa.

Daí vejo pelos stories que ela está na casa de outro amigo meu. Mando um coraçãozinho, eles me mandam vir. Pego um uber e chego menos de 1h depois. Pra gente almoçar, jantar, e ainda tivemos tempo e disposição para passear.

Os reflexos disso aparecem em tudo: nos meus sorrisos e nas referências que uso para conversar. Nos pensamentos que cultivo, nos dilemas que enfrento. Chego em casa e quero, finalmente, ajeitar a minha casa. Passamos algumas horas entretidos com isso, eu já de roupa de academia para correr (afinal, preciso me preparar para a prova).

Escurece e eu desisto. Aí faço o jantar, como e percebo que ainda são só 19h30. Saio para a academia, pois tenho energia para ir.

Desencadeia-se em mim um ciclo virtuoso de querer fazer mais coisas e passar mais tempo instalada no mundo. A realidade me puxa e eu não luto contra.

As estatísticas estão corretas. Os nossos vínculos são muito importantes para a saúde.

E não, a internet não aproxima. Ela só nos dá a falsa impressão de que estamos sempre juntos, enquanto estamos cada vez mais longe uns dos outros.

Há quanto tempo você não procura um amigo seu, e o encontra pessoalmente? Qual é a sensação que te acomete quando recebe um convite?

Medite a respeito.

 

3 comentários em “As férias e (a volta d)as pessoas

    1. To não! Meus pais estão, aí tenho ido bem mais amiúde… inclusive, vou daqui uns dias, para o dia dos pais (entre 9 e 11 de agosto). Não sendo no próprio dia dos pais, estou sempre disponível para café e comidinhas!
      De preferência um café que você não tenha feito, a julgar pelas fotos das redes sociais.

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