Sempre me considerei uma pessoa não muito daqui desse mundo, com uma facilidade muito grande de sair avoada pelas janelas, pensando perdida em alguma coisa que me distraía. Entre aérea e aquática, sempre tive um fetiche de conseguir me aterrar.
Mas a energia terrena não me pegava; fosse pela teoria que fosse, passando pela pseudociência da astrologia, passeando pela minha fisiologia, pela teoria dos temperamentos… eu era pouco concreta.
Daí semanas atrás, voei literalmente: embarquei num avião e aterrissei em São Paulo. Meu compromisso era aparecer lá na Casa Prazerela, e fazer uma coisa chamada terapia orgástica.
Sim, nela você tem orgasmos. Sim, alguém vai pegar na sua pepeka e não vai ser você. Sim, custa dinheiro e é um trabalho sério, ético, respeitoso e muito bonito de se fazer.
Mulheres procuram quando têm traumas, disfunções, ou quando querem aprender mais sobre a sua própria potência de prazer. Eu fui por esse último motivo, e porque desde que comecei a tratar minha depressão, sentia minha libido muito longe de mim.
Enquanto conversava com a minha terapeuta, Raquel, e falávamos sobre tantas coisas relacionadas ao mundo do sagrado feminino, ela me deu de presente uma metáfora poderosíssima:
Pediu para que eu imaginasse o potencial de prazer que possuo, como um jardim lindo, florido e agradável. Só que pra chegar nele, eu precisava passar por uma trilha estreita, suja e cheia de entulhos. Essa trilha… é a minha mente.
A terapia, faria uma “faxina” de um pouco destes entulhos, e me ajudaria a processar um pouco melhor tudo isso. A não bloquear tanto a minha capacidade, a minha potência – de ter orgasmos, mas também de criar, e de desfrutar a vida como um todo.
Durante a terapia, logo depois do meu primeiro orgasmo, ela me disse: daqui por diante, se você permitir, vamos acessar lugares ainda mais desconhecidos de prazer dentro de você.
E a sensação era um misto de agonia física, medo e curiosidade. E nessa hora, me vi trilhando uma trilha molhada, escura, estreita que margeava um abismo. Um morro muito íngreme de floresta, vegetação e folhas úmidas pavimentando o chão.
Meus dedos dos pés sentiam a água e a terra escura entre eles, a água chapinhava sob meus passos. Mas era seguro correr, porque eu tinha clareza do que vinha à minha frente. Eu ia chegar na água, eu ia mergulhar na piscina natural formada pelas pedras e pela água da cachoeira.
A metáfora do meu jardim interno, o meu jardim secreto, com que ela havia me presenteado um pouco antes…
Eu percorri ele. Saí desse estado transcendental antes de mergulhar na água, no entanto.
Ao terminar a sessão de terapia, que dura mais ou menos duas horas entre conversa e as massagens corporais, fiquei quietinha, deitada no tatame onde havia feito a terapia, acalmando uma sensação de formigamento nas mãos.
Escutava a playlist incrível que acompanhou a sessão, e passava as mãos pela minha barriga, pelos braços, pelas pernas. Desci as escadas descalça, fui pro jardim passear entre as árvores de pés descalços – mais uma das ideias incríveis da Raquel.
As conversas na casa são agradáveis, aconchegantes e você se sente muito bem. O espaço é lindo, arborizado, cheio de elementos artísticos e femininos. Aquela casa antiga, toda preparada pra receber as mulheres, é um lugar maravilhoso. Também é um pouco a minha casa, agora.

Voltei pra minha casa borbulhante de ideias e projetos. Nada muito grande pra quem vê de fora: projetos de cultivar e acessar mais o meu jardim interno. Desfrutar da vida, palmilhar mais vezes a trilha úmida e fértil, o solo cheio de folhas no chão, que percorri durante a sessão de terapia.
Criar, e me observar. Colorir. Cheguei em casa com vontade de nutrir um lado meu que começou a crescer. Me senti gente grande, me senti mulher – e não mais criança. Expandi, e minha pele caiu. Lembram do meu psiquiatra dizendo que troquei de pele?

Ele atribui parte dessa troca à terapia orgástica. Diz que muita eliminação emocional que a gente faz no pós terapias deste tipo, reverberam por dias ainda. Eu acredito que sim, e tenho estado a cada dia mais vigilante e consciente do que sinto, do que preciso.
Quando cheguei na Casa Prazerela, e contei para as meninas que eu tinha ido a São Paulo só pra fazer a terapia, todas abriam um sorrisão e me disseram: nossa, que presente maravilhoso você se deu!

E eu já encarava essa ida assim. Só não sabia o quanto esse presente seria bom!
Nunca me senti tão livre num tempo e espaço como na terapia orgástica. Você pode ser quem quiser, como quiser, e isso é tão diferente de tudo o que vemos no mundo e nas nossas relações atuais.
Quando soube do preço (R$450 a sessão), achei que era um valor justo pelo tempo que ficaríamos em terapia, além da questão de segurança. Você não vai pra qualquer lugar ficar nua e deixar mexerem no seu corpo – é preciso confiar na seriedade do trabalho. Por isso, sequer cogitei outras alternativas (se é que existem). Mas a verdade é que, pela qualidade do trabalho realizado, saí achando até em conta.
Virei a pregadora da terapia orgástica para todas as minhas amigas. Comentei com meu namorado ao sair que, lamentava que ele fosse homem e não pudesse ter uma experiência como aquela. Foi incrível demais!
Não sei se algum dia vou repetir. Tudo o que vivenciei me pareceu o bastante, me pareceu potente. Suficiente. Mas ainda estou processando, e pode ser que eu descubra, daqui um tempo, que ainda tenho mais passos a caminhar, até mergulhar finalmente no meu jardim interno.
Aqui, neste link, tem mais um pouco do que as musas contam a respeito da terapia que fiz.
Que super generoso teu relato! Muito obrigada por compartilhar um pouco dessa experiência.
Ontem no podcast Projeto Piloto, da Thais Farage e Lu Ferreira o assunto foi prazer feminino e receberam a Mariana Stock da Prazerela. Eu que já estava há tempos pra visitar teu blog e o relato da terapia encontrei o momento exato!
p.s. Não sei se vc conhece, mas acho que o conteúdo da tua xará @thaisfarage te interessaria. Ela faz análise de cor mas tb fala sobre moda, estilo, feminismo e várias cositas de um jeito bem bacana mesmo, assim como super acho que vale maratonar na escuta do Projeto Piloto!
Um beijo e parabéns pelo blogue, voltarei mais vezes!
Tainã
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[…] Provavelmente, disso tudo, só vou esgotar o curso de Desastres nesse mês ainda. O restante, vou estudar por muito tempo, mas não com a mesma dedicação. Nesse ano, só a título de exemplo, eu já estudei muito sobre o prazer feminino, li vários livros e fiz alguns cursos, além da terapia orgástica (clique aqui para ler o post). […]
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