Mandala menstrual – saúde e autoconhecimento de uma vez só!

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Minha primeira menstruação aconteceu numa manhã de sábado, aos meus 16 anos (tenho 35). Eu lembro nitidamente da minha alegria, porque todas as minhas amigas já passavam por isso há um bom tempo, e eu não via a hora de me acontecer!

Eu já tinhas várias alterações hormonais importantes: havia parado de crescer em estatura, a pele era explodida de acnes, os seios mega desenvolvidos e o meu humor era uma loucura. Já me sentia uma mocinha, e queria muito “ficar mocinha”.

Como meu ciclo foi meio tardio, e depois disso, passaram-se meses até aparecer novamente, começamos a investigar na médica o que estava acontecendo. As espinhas realmente me incomodavam mais do que tudo. Eu tinha ouvido falar que tomar anticoncepcional limpava a pele – e até comprado o mais barato da farmácia por conta própria.

Depois dos exames, a ginecologista me diagnosticou com a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), e os sintomas casavam direitinho. Também a ultrassonografia mostrou um dos ovários bem alterado, estava tudo condizente. Segundo ela, o melhor tratamento existente era usar o anticoncepcional Diane35. E foi o que eu comecei a fazer.

Fiz até trocar para outro, o Elani28 – uma cartela de pílulas feita para nunca parar de tomar, e assim, ficar sem menstruar o ano inteiro. Adorei esse controle e essa novidade, porque eu fazia natação, e já tendo então uns 18 anos e vida sexual ativa, achei incrível essa ideia de poder definir que não ia passar pelo “transtorno” de menstruar.

Levei essa vida até os meus 30 anos, quando conheci minha primeira nutricionista, a Nanda, e ela (que também tinha SOP) me disse que havia revertido o quadro através da alimentação paleo lowcarb.

14 anos depois de ingerir hormônios sintéticos de forma ininterrupta, achei que estava bom. Por sorte, nunca tive nenhum dos efeitos colaterais que mulheres sofriam. Simplesmente parei por conta, e deixei ver o que acontecia. Isso foi em 2015.

Aconteceu basicamente um grande nada: meu ciclo menstrual desde então foi irregular, espaçado, ficando menstruada poucas vezes no ano. Eu havia pesquisado muito, e sabia que era um efeito bem comum, depois de parar com a pílula. Como não tenho interesse em engravidar, fiquei bem com isso.

Com o passar do tempo, entretanto, isso foi me dando um certo receio. Descobri que existia uma coisa chamada amenorreia hipotalâmica, que é a interrupção do ciclo fértil da mulher por razões inconscientes advindas do estresse.

Eu vinha enfrentando várias barras. Pela primeira vez, me deu medo que essa abençoada infertilidade pontual, pudesse também estar me prejudicando de outras formas.

Pensei comigo: se eu não menstruo, é porque não ovulo. Se eu não ovulo, não tenho filhos, ótimo, mas e se tiverem outras razões importantes para eu viver esse ciclo? E se esses hormônios me fizerem falta para ser uma mulher saudável?

Comecei uma busca insana por profissionais da medicina que quisessem entender isso mais a fundo. Ginecos e endócrinos de toda a grande Florianópolis foram procurados, e basicamente, todos ficavam contentes com o diagnóstico da SOP, diziam para voltar a tomar pílula. Eu agradecia e ia embora.

Algumas vezes, me foram pedidos exames de sangue. Pelo resultado, que de tão lindo eu poderia mandar emoldurar, minha saúde é equivalente à de um cavalo de raça. No entanto, não correspondem ao meu estado geral de saúde. Nem combinam com as minhas queixas clínicas.

Mas ninguém parecia ligar muito, sabe?

Procurei outra nutricionista. Ao longo dos anos, aprendi a respeitar muito mais essa profissão, que olha com carinho os nossos exames de sangue, e nos questiona sobre os nossos hábitos diários: quando e como acordamos, o que e quanto comemos, como é o nosso cocô, como é o nosso sono.

A Nath, que me ajudou uns anos atrás quando a minha azia me levou de novo aos médicos, foi a primeira pessoa a me alertar do seguinte: ela iria me receitar muitos suplementos e cuidaria do meu cardápio, mas havia um grande problema chamado estresse.

Eu poderia “acalmar” os meus sintomas, mas se não parasse de apertar o gatilho, nunca pararia de sentir o mal estar de que me queixava. Guardei essa frase bem fundo dentro de mim, e a minha saga vocês conhecem.

Bom, no meio de todas essas buscas, nada da menstruação descer, eu fui conversar com uma menina que é super conectada com tudo o que se refere ao universo feminino: a Mariah. De longe, é a pessoa mais estudiosa e interessada no assunto dos meus círculos, e ela generosamente me deu algumas ideias.

Uma delas, era a ideia de começar a monitorar o meu ciclo menstrual, através de uma ferramenta chamada “mandala lunar”. Eu preencheria uma folha, todos os dias do mês, falando do meu estado de espírito e do meu corpo, sintomas físicos, e logo, seria capaz de visualizar padrões e “coincidências”.

Comecei a fazer isso, disciplinadamente, como sempre faço com tudo o que é rastreamento de dados. Eu adoro me auto trackear, faço isso sobre muitas coisas. E aí fui percebendo alguns padrões, aqui e ali.

Um dia, juntei todas as minhas folhinhas e fui ver o que eu já tinha compilado a meu respeito. Descobri que eu fico esfuziante quando minha menstruação desce. Saio resolutiva, corajosa, livre e faladeira. São os meus dias mais produtivos, e em que mais me abro ao mundo fora de mim.

Comecei a contar os dias “para trás” do ciclo anterior, para tentar ver quando havia estado fértil. E se havia algo em comum nesses dias. Pintei eles de verde, para visualizar melhor. Notei que tenho um padrão de ciclos mais longos, de 35 a 39 dias. 

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Fiquei meio espertinha também com os dias de ovulação. Entendi, estudando mais, que uma mulher estressada não ovula. Não há como formar outra vida, se a dela está em risco (ao menos no entendimento do hipotálamo). Passei a festejar esses dias: poxa, que legal! Se esse meu gameta está sendo liberado, é porque sou grande e suficiente para mim mesma e até pra mais alguém!

A próxima fase, foi querer identificar a coincidência da fase da lua com meu ciclo menstrual. Era uma baita confusão em mim, por conta desses meus ciclos mais longos, e nem sempre batia.

Comprei um livro meio que ao acaso, numa livraria: o Lua Vermelha, de Miranda Gray. Descobri depois que ele é super bem conhecido, como uma ótima referência para mulheres que querem conhecer mais sobre o seu próprio ciclo e fertilidade.

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Eu sempre olho qual é a lua do momento quando meu ciclo recomeça. É como um lembrete mental, de que lá fora (e aqui dentro), a natureza segue fazendo o que quer. E que se eu respeita-la, vou me sentir melhor.

Mês passado, foi a primeira vez que eu soube, antes da minha menstruação descer, que com certeza ela viria. Desceu no dia seguinte. Fiquei menstruada junto com minha melhor amiga, e ovulamos no mesmo dia, em que eu havia dormido na casa dela.

Essa conexão tão bonita e simples. Sou tão tranquila e feliz perto dela, que minha fertilidade aflora!

Diversas amigas minhas usam também esse método de autoconhecimento. De tudo o que tenho feito, esse é sem dúvidas um dos que me dá mais prazer em preencher, e é um alerta para que eu me investigue e saiba como estou passando naquele dia.

Sei que existem diversos aplicativos, mas nunca usei nenhum. Me adapto melhor e gosto mais de usar o papel e caneta, além do que, como eu não sou tão regular, tenho medo que o algoritmo cometa bullying comigo. Hehehe.

Eu já tenho coisas demais para serem consideradas fora do padrão, para ainda implicar com isso. Hoje em dia me sinto muito mais potente e conectada comigo mesma, por ter esse simples hábito de preencher minha mandala todos os dias!

Baixei a minha e imprimo mensalmente neste link aqui. Também tem um tutorial simples e bem legal sobre como começar nesse mundo.

 

 

3 comentários em “Mandala menstrual – saúde e autoconhecimento de uma vez só!

  1. Teu post me apareceu num momento bem oportuno, que engraçado. Recentemente voltei na gineco que costumo ir há um bom tempo e quando questionei sobre a permanência da SOP ela passou ultrassons novamente e que se o resultado permanecesse teria que voltar com as pílulas, simples assim, sem investigar causas. Assim como aconteceu com vc, ela disse que sou “saudável”, mas não me sinto assim, e sei que há outros fatores além dos que ela pede nos exames de sangue que poderiam ser avaliados, além de que também sou uma pessoa “estressada”. Tô avaliando se parto pra uma nutri, tentando encontrar uma pessoa mais atenciosa com esse tipo de questão, e fazer terapia. Agradeço a dica da mandala! Uma ótima semana pra vc.

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  2. Nossa! Muito legal! Me identifiquei muito com sua história. Desde a demora e a pressão por “virar mocinha” até não aceitar mais tomar hormônios. Já estou há 5 anos sem anticoncepcional e foi a melhor coisa que fiz na vida. Sinto meu corpo, sei quando estou bem ou mal. E tudo flui naturalmente. Boa caminhada para você! 🙂

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