
Se tem algo que tenho orgulho a meu respeito, é a minha “atitude viajante”. Assim como dizem que o melhor da festa é esperar por ela, eu começo a viajar muito antes de chegar no local.
Vasculho tudo o que posso conhecer a respeito do lugar antes de chegar lá. Leio a respeito dos pontos que me interessam, vejo mil vídeos, postagens de blogue, entro no site das redes de supermercado local. Checo a previsão do tempo todos os dias, até estar efetivamente lá, várias vezes ao dia.
Decoro o caminho do aeroporto para a minha hospedagem, simulo trajeto no uber, anoto todas as formas de transporte público e domino de memória todo o “meu bairro” antes de sequer pisar lá. Sempre leio tudo o que encontro sobre o aeroporto em questão, sua infraestrutura, o processo de imigração.
Como dá pra imaginar lendo essas coisas, eu sempre achei que as viagens internacionais têm um gostinho especial. Outro idioma, outro relevo e clima, é como trocar a roupa da alma. Eu sempre me esforço para ir pra fora do Brasil.
Com isso, deixei de conhecer a Amazônia (e talvez acabem com ela antes disso). Nunca circulei pelo Mercado Ver-O-Peso, em Belém, onde sonhei comprar ervas medicinais. Não flutuei pelas águas doces de Bonito, e nem fui tomar uma cerveja gelada com meus grandes amigos Carcará e Tavares em João Pessoa.
Não conseguimos nem confirmar o nosso passeio para São Joaquim, na vindima esse ano. Aqui pertinho de casa. Alugamos um flat em Bombinhas, pra aliviar o calor, mas a pandemia cortou nosso barato. Nossa pousada ficou paga, lá em Parati. Continuo sem conhecer a Praia do Rosa.

O hotel boutique metido a besta que eu queria dormir em Tiradentes, está temporariamente fechado. Mas eu não iria nem de graça, hoje. E a nossa lua-de-mel que começava em Veneza, chegando de vaporetto num hotel à beira do canal, ficou para sabe-se lá quando. Nosso cruzeiro de navio pela Grécia, virou uma miragem.
“Quando tudo isso acabar”, as passagens vão custar um absurdo. A moeda estrangeira, nem se fala. Eu honestamente nem penso a esse respeito. Não iria a lugar nenhum hoje, nem com tudo pago. Acho que o momento exige sobriedade da gente.
Quando penso em umas próximas férias, uma casa com quintal parece uma excelente pedida. Um lugar onde meus cachorros vão poder brincar bastante, e onde não tenha buffet de café da manhã. Um lugar onde a gente possa fazer nossa comidinha em casa.
Um lugar de pouca aglomeração, o mínimo possível de deslocamento. Avião, nem pensar. O mundo inteiro mudou, e eu também já não sou mais a mesma pessoa. As coisas em que empregava meu tempo, dinheiro e priorizava como modo de vida (viajando e em casa), já não existem mais.