Desde criança (obrigada pela minha família) até hoje, voluntariamente, somo a marca de 8 psicólogas diferentes com quem já me consultei.
É que nem relacionamento amoroso: a melhor sempre é a atual. Mas sem dúvida, as 3 últimas, que eu escolhi depois de adulta quando decidi por minha própria vontade ir atrás de alguma, foram as que mais tiveram impacto na minha vida.
Na infância e adolescência, fui obrigada pelos meus pais e escapuli com alívio depois de algumas sessões. A que me deixou com mais sensação desagradável foi uma psicanalista freudiana, que sustentava silêncios me olhando de um modo que me enlouquecia.
Foi ali, naquele consultório na década de 90, que comecei a inventar um personagem que sustentei a vida inteira: o papel de entreter as pessoas com histórias geralmente engraçadas, para assim suportar o tempo juntos. Eu me especializei nesse papel, coletei histórias e idiossincrasias próprias, que me deixavam segura diante de qualquer pessoa.
Eu sempre achei que o riso era um escape, uma forma de não demonstrar que me atingia tanto pelos revezes da vida. E até na sessão de terapia eu ficava lá, pagando a hora e divertindo as psicólogas.
Mas enfim: mesmo com isso, que fui pouco a pouco des-vestindo a carapaça, com a ajuda principalmente de Renata, a primeira das três que eu mesma escolhi. Um fato curioso foi que as pessoas começaram a perguntar se eu estava com algum problema justamente quando eu comecei a melhorar e ser quem eu era realmente!
Cheguei à conclusão, ao longo dos anos, que nunca mais ficarei sem algum tipo de acompanhamento desse tipo. A vida é muito complexa e cheia de nuances, eu não chegaria às conclusões que cheguei sem a ajuda profissional dessas mulheres por quem passei.
Vale dizer que nunca me senti à vontade de tratar minhas questões psicológicas com um homem. Até já fui em médico homem, mas eu acredito que numa regularidade semanal, expondo minhas questões mais secretas, eu não conseguiria me abrir com a mesma confiança para um homem. Então todas as minhas psicólogas até hoje foram mulheres, e a próxima provavelmente também será.
Não que eu esteja procurando uma próxima – eu e Fabiana mal começamos. Inclusive ainda estamos meio sem ritmo, como acontece quando você ainda está se aproximando de alguém e não convive muito. Começamos quinzenais, afinal ainda não enriqueci, mas conforme fui sentindo o benefício, arrumei o tempo, o dinheiro e o espaço para as sessões na minha vida.
Não é fácil admitir que fazemos mil coisas que não planejamos, que julgamos os outros, que sentimos tanta raiva, tanta preguiça, tanta impotência e medo diante das coisas da vida. Lembro que no início eu dava mil contextos, justificava, explicava muito o meu ponto. Agora, já assimilei que ela deve ouvir coisa igual ou pior o tempo todo, e que estarei só atrasando o meu progresso com esse tipo de fuga.
Tem ainda uma espécie de padrão: tanto com Renata, como com Andressa, “terminei” de uma maneira meio brusca. Eu não concluí o meu processo de psicoterapia de uma forma civilizada em consulta, a gente dando tapinhas nas costas e dizendo que poderemos ser amigas daqui pra frente.
Em ambos os casos foi assim: você está lá, dando duro nesse processo de autoconhecimento e a pessoa te apoiando. Ambas estão dando o seu melhor. Só que por alguma razão, que a minha hipótese é que tudo tem limite, inclusive os recursos que alguém tem para usar com você, o progresso vai se arrastando. As sessões parecem aquela obrigação de visitar parentes distantes sem nenhuma conexão com sua vida pessoal.
Até que numa sessão, você fica um pouco puta dos cornos com a condução da terapeuta. E decide que chegou no limite, fim. Foi assim que eu saí da Renata, e três anos depois, da Andressa. Sem mágoas ou ressentimentos, afinal a relação não é pessoal, mas também de uma forma que denota um desgaste.
Ainda que tenha esse padrão reconhecido, e possivelmente algo a amadurecer a esse respeito, sem elas a minha jornada seria tão mais árdua. Eu não sou uma pessoa que se contenta com as coisas como são – muito menos a meu respeito. Eu me investigo profundamente de diversas formas, e a psicoterapia é uma delas.
Tenho para mim que, quanto mais a pessoa diz que “não precisa” de psicoterapia, mais ela está precisando e em negação. Não querer mexer (ao meu ver) é medo de descobrir partes suas que não são tão belas ou coerentes.
Eu acredito que as pessoas deveriam ter direito a uma psicóloga regularmente, tanto quanto exames e consultas de rotina.
[…] tendo conversado uma grande quantidade de vezes sobre isso com as minhas psicólogas, já exercitei algumas outras opções: perguntar a mim mesma, se caso outra pessoa dissesse o […]
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