São 6h01 quando eu acordo, abro o whatsapp pela primeira vez e abro uma mensagem de número desconhecido. A moça vai participar de um retiro na mesma data e local que eu, e pergunta se sou “de Floripa”, pois ela quer pedir uma carona.
Eu respondo que sim, tem carona para ela, porém a partir de São José. E somente na ida, pois na volta não iria direto para casa. E vou para as outras mensagens, encontrando uma da minha amiga que vai ao retiro comigo. A mesma moça havia pedido uma carona para ela, e ela disse que iria de carona, e a moça já pergunta imediatamente se a carona era eu.
Já começou o aglomero, me diz essa amiga. E ainda fala que se fosse eu, diria que não tem lugar – e que não gostou que os nossos números haviam sido fornecidos a uma pessoa aleatória pela organização do evento.
Eu, que até ali estava só fazendo o meu papel de trouxa habitual, percebo que caí numa mini-cilada. O correto seria já dizer não desde o início, mas eu apenas pensei que não me custava nada transportá-la no trajeto de ida até o local, desde que ela usasse máscara.
Não me ocorreu que por causa dela, eu iria viajar de máscara. Então avisei-a que havia essa regra básica, que ela não poderia ficar sem máscara dentro do carro. Mas ela está mais preocupada com o fato de que não tem como voltar, e tentando entender qual o nosso plano na volta. Insiste, pergunta mais, manda uns emojis. A pessoa que nem existia na minha vida até meia hora atrás já me causou ranço (e é por isso que eu não vou para o céu, caso ele exista).
A conversa com ela morre por ali, mas rendeu uma bela reflexão entre mim e minha amiga, sobre como eu funciono no automático. Cheguei a brincar que deveria ter visto o grupo primeiro, assim já contaria uma mentira maior, de que estaria viajando desde antes.
Pois para mim, e aqui é o ponto onde queria chegar, dizer não e não justificar nada, é o mais terrível ato que eu posso cometer. Ou mesmo dizer que eu até posso fazer o que a pessoa me pediu, mas eu não quero fazer, é algo difícil ao extremo para mim. É como se fosse o meu reconhecimento público de uma vergonha particular, a vergonha de não ser uma pessoa boa de coração o suficiente para simplesmente atender o pedido da pessoa com felicidade – quase se a pessoa estivesse me fazendo um favor, ao me pedir algo que ela que quer ou precisa.
Já tendo conversado uma grande quantidade de vezes sobre isso com as minhas psicólogas, já exercitei algumas outras opções: perguntar a mim mesma, se caso outra pessoa dissesse o não, eu pensaria tudo isso que penso de mim. Treinar comigo mesma, em oportunidades diferentes, como dizer não de uma forma que eu consiga sentir que não fui má com ninguém. Relembrar, reler mil vezes, o que significam os sim que digo aos outros.
Não posso sequer me considerar iniciada no processo. É difícil em um nível visceral dizer não, mesmo a pessoas desconhecidas como essa moça (que até o momento não sei se vai ou não conosco no trajeto de ida). Mas sou uma iniciante, estudiosa, candidata a praticante.
Você consegue dizer não com facilidade? Isso sempre foi assim pra você? Eu adoraria umas dicas para aprender a dizer não sem sofrer por dias 🙂