Hoje aconteceu um fato engraçado. Na verdade, começou três dias atrás, então vem comigo.
Sexta-feira eu cheguei num ashram aqui em Campo Alegre, interior de Santa Catarina, para participar de um retiro curto, de 2 dias. Eu fui meio no escuro, só porque queria muito voltar ao ashram. Eu havia conhecido o lugar em janeiro, em um retiro de meditação em silêncio, e havia ficado tocada pela beleza e pureza do lugar.
Então ao chegar, me deparei com um livro de ayurveda que nunca tinha ouvido falar antes. Fiquei curiosa, e decidi bater algumas fotos da capa e de páginas que me chamaram a atenção. Hoje, já com o whatsapp funcionando, mandei a foto do livro no meu grupo da formação em ayurveda, perguntando à professora se ela conhecia e indicava a obra.
Uma colega minha, que já é terapeuta e fez uma formação recentemente, respondeu que na formação havia sido recomendado o livro e que ela tinha até um contato que o vendia mais barato. Logo a seguir, minha professora responde que o livro é, de certa maneira, “politicamente incorreto”, pois haviam muitas cópias de outras obras não referendadas adequadamente. Mas que não deixava de ser uma boa obra para consulta.
Eu fiz um comentário do tipo “poxa, que pena, parecia legal”, e a colega que tinha até o contato do vendedor responde: mas ficamos com a informação de que é uma boa obra né?
Respondi que já ia jogar meus reais em outra coisa, e o assunto morreu ali.
Mas fiquei encafifada com o assunto, e resolvi elaborar um pouco mais. No minuto em que soube que a obra tinha algo de escuso, imediatamente abandonei o interesse. Para mim, o fator ético é muito importante, e faz com que eu deixe de frequentar lugares, comprar produtos e até de me relacionar com pessoas. Tipo: nunca mais consegui curtir um filme de Woody Allen, depois de conhecer o histórico dele.
Assim existem diversas outras situações, mais ou menos próximas do meu universo diário. Troquei o Omo por Tixan quando soube que a primeira marca testava em animais, e a segunda não. Não sou vegana e estou vestindo uma jaqueta de couro agora, mas não consigo comprar outro sabão em pó (devo dizer que não perdi em nada com essa escolha, até ganhei alguns reais).
No entanto, acabo de descobrir vendo as listas que os veganos preparam para nós, que minha higiene bucal já não é livre de testes em animais, então vai saber… Eu faço o que consigo, e algumas coisas mexem mais do que outras. Acho que é assim com todo mundo.
Conheço uma infinidade de pessoas que não passa nem um minuto preocupada com esse tipo de decisão, e olhando no cenário mais amplo, sei que não altera o curso dos acontecimentos eu sozinha escolher isso ou aquilo. Eu só não consigo manter algumas escolhas, uma vez que tenha entendido a questão. Quando algo realmente me impacta, eu deixo de conseguir me relacionar com aquele produto/serviço ou o que for.
Tanta coisa já mudou a esse respeito, eu já fui tão diferente em certas escolhas. No entanto, até hoje, não aconteceu de eu voltar atrás em algo que tenha decidido que não fazia mais sentido manter. Esse tipo de reflexão e de decisão já me fez ser inúmeras vezes tachada de “problematizadora” demais, de ser muito cricri e outros adjetivos menos lisonjeiros – e por pessoas bem próximas de mim, por sinal. Só hoje foi que me dei conta que é como eu sou, não conseguiria evitar – caso quisesse, e acho que não quero.
Você pondera esse tipo de escolha, ou só vai seguindo mais objetivamente? Conversa comigo sobre isso!