As muitas maneiras de meditar

Nossa salinha de meditação matinal. Sagrada e luminosa.

Há um ano atrás, eu voltava do meu primeiro retiro de meditação em silêncio, que durou 5 dias, num ashram em Campo Alegre (interior de Santa Catarina).

Esse evento modificou a minha vida radicalmente, por uma série de razões. A meditação foi o tema central, mas ali foi como se eu tivesse dado o meu primeiro mergulho de cabeça na beira de um rio, que aparentemente, é grande o suficiente para que eu possa passar toda a minha vida em contato com ele. Haverão momentos em que vou nadar, veloz, a favor da correnteza, e haverão momentos de estar apenas na beira do rio. Olhando-o, bebendo um pouco de água, ou talvez molhando apenas as mãos, os pés.

Durante aqueles primeiros 5 dias, eu tive acesso a aproximadamente 4 técnicas meditativas. O que mais me engajei, naquele momento, foi a ativa meditação de entoar o mantra de 100 sílabas, o vajra satwa. Saí de lá e segui cantando durante alguns dias. Depois, encontrei um grupo online, onde eu meditava diariamente sob a guia de uma professora de yoga, e foi algo que me sustentou com bastante vigor, num período em que ainda me encontrava em desmame do meu medicamento antidepressivo. Essa experiência durou pouco mais de um mês, quando eu acabei optando por praticar yoga presencial num studio perto da minha casa.

Em junho, comprei uma zafu (almofada indiana de meditação), para conseguir acomodar melhor o meu quadril, já que a posição de lótus é impossível para mim (já foi mais). Quem mais a utiliza, no entanto, é Waffles: ele se encantou pela zafu desde o primeiro minuto, e adora dormir nela.

O próprio Sidarta Gautama.

Em algum ponto do caminho, cheguei numa fase no meu curso de ayurveda em que meu professor dedicou um mês inteiro ao pilar do silêncio, descrito por ele como a máxima expressão da presença. Tínhamos diversas tarefinhas a desempenhar, relacionadas a silêncio: a primeira delas, era simplesmente ficar em silêncio, durante 5 minutos do dia. Gradativamente, aprendemos algumas técnicas meditativas (conheci o tratak, que é basicamente você meditar de olhos abertos, com um objeto de foco), experimentamos algumas guiadas, e assim foi.

Esse mês foi muito importante na minha jornada, pois me relembrou da necessidade imperiosa de estar presente. Meditei de diversas maneiras orientada por ele, fui feliz nessa descoberta.

Ao chegar nas minhas férias de final de ano (sobre as quais cheguei a mencionar nesse post aqui), tive uma pequena epifania lá pelo terceiro dia. Eu finalmente havia reconhecido a importância do vazio e do não fazer nada, numa vida constantemente ocupada, diria até que sobrecarregada, que eu vinha levando. Foi em alguma espreguiçadeira da pousada, à toa, que me veio uma vontade grande de voltar a escrever. E de ler, e fazer algo com isso. E então eu cheguei no livro Sociedade do Cansaço, e mil fichas caíram de forma veloz e concatenada por dentro de mim.

Não meditei, naqueles dias. Apenas abri um nobre espaço para não fazer nada. E isso foi suficiente, para encerrar um ano pesado, de grande sobrecarga mental e emocional. Tantos lutos, tanto estresse.

Há mais ou menos duas semanas, uma coisa levando à outra, decidi me aprofundar um pouco no estudo do Budismo como filosofia (não como religião). Busquei informações pela internet, interessada em ver a melhor forma de fazer isso. Pesquisei, pesquisei, e acabei encontrando o meu grupo de estudos (no momento, online). Sigo estudando o livro que o grupo está estudando, e cada aula é reveladora para mim. As poucas meditações que eu vinha fazendo, surtiram esse efeito em mim: estava faltando algo aqui por dentro, algo que os religiosos chamam de espiritualidade.

Eu, por não acreditar em Deus, deixo a espiritualidade na conta de práticas de autoconhecimento, contemplação, e já é muito mais do que consigo assimilar. Percebi, na minha jornada, que a maior parte do conhecimento sobre a meditação vem das religiões (ainda que existam grandes meditadores católicos, por exemplo). E eu decidi há muitos anos que quero ser uma meditadora, a melhor que puder ser. Meditar me torna mais consciente ao longo da vida – e expandir a consciência é algo que me interessa.

Depois de ler e estudar sobre tantas técnicas, hoje eu encaro cada uma delas como uma ferramenta que guardo cuidadosamente na minha maletinha. Conforme a necessidade, tiro uma delas de dentro, e uso. As que mais costumo utilizar, nos meus dias, são o silêncio em si, a meditação ativa (quando estou no sítio, pratico shinrin yoku, o banho de floresta), e sempre, antes de dormir, pratico meditar sobre um objeto de atenção (eventualmente a respiração ou o meu próprio corpo, escaneando as partes). Embora yoga não seja meditação e meditação não seja yoga, é um dos momentos mais relevantes da minha semana. Ajuda a colocar as emoções no lugar, e me mostra o quanto fujo do aqui e agora, para o futuro.

Entendi até esse ponto, que assim como eu não gosto de só um tipo de alimento, ou de só um estilo musical, eu também não gosto de só uma prática ou técnica meditativa. Na realidade, eu tenho necessidades distintas conforme o momento, os acontecimentos externos e o meu próprio estado de espírito. Parei de idealizar aquela prática bonita nas fotos, com uma lótus bem-feita, uma coluna ereta, uma mente aparentemente imóvel. Me contentei em perceber que haverão muitos dias em que o melhor que poderei fazer, será me dedicar com atenção plena a alguma atividade manual, ou a focar na minha respiração durante alguns minutos.

Isso não é razão para eu desistir de exercitar o quadril, na yoga, nem de seguir frequentando os retiros e os grupos de estudo. É só perceber, ao final de um ano de jornada, que ela acontece de diferentes maneiras. A meditação é o meu rio constante. Horas mais poluído, parecendo quase impossível de entrar, e aí o que me cabe é retirar o lixo dele. E horas mais límpido, convidativo a mergulhar. Horas turbulento, caudaloso. Eu nunca sei muita coisa das águas desse rio, antes de me aproximar dele. Mas sei que ele murmura, percorre e serpenteia ao meu lado, e que eu não posso viver completamente separada dele. Eu preciso sempre buscar o rio, e estar em contato com ele.

De tempos em tempos, venho aqui atualizar vocês do curso do rio. E me reler.

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