A arte imita a vida (e eu vivo em Dungeons&Dragons)

Quando criança eu assisti poucos desenhos da Caverna do Dragão. Achava muito chato, pra ser sincera, as batalhas épicas que o grupo se envolvia, só gostava do começo e do final. Mas aí o mundo deu voltas o suficiente, para hoje eu procurar os personagens mais icônicos de desenhos animados e assim poder descrever uma pessoa real com licença poética.

Foi na Caverna do Dragão que identifiquei o Presto, um rapazote que treinava números de mágica, porém ele é ruim na arte. Fraquinho nos truques, se atrapalha, é inseguro, tímido e tem pouquíssima aptidão física, o que o torna ainda mais retraído. Presto quer fazer grandes números, mas acaba causando mais transtorno do que diversão.

E recentemente, eu descobri que trabalho pertinho de Presto, a vida toda ele esteve perto de mim e não havia revelado a sua (por assim dizer) magia. Até que duas semanas atrás, o acaso me levou a ver o primeiro de seus números.

Eu havia ganhado duas bananas e decidi cozinhar no microondas coletivo. Chegando lá, enquanto descascava a banana e colocava-a no meu pratinho, decidi salpicar um pouco de canela por cima, deixando-a mais saborosa. Nessa hora, Presto, que estava meio longe, porém de olho em cada lance, me aborda:

– Thaís, essa canela que você salpicou na banana, ela é de uso exclusivo daqueles que contribuíram para comprá-la.

– Poxa, Presto, me desculpe, se eu pudesse até devolveria, mas já salpiquei…

– Sim, tudo bem, mas se por acaso você precisar novamente cozinhar banana no microondas aqui, já sabe que essa canela é nossa. Para quem são essas bananas?

– Uma para mim, outra para o Fulaninho, que foi quem me deu as bananas e até ajudou a comprar esse microondas.

– Ah, sim. Então tá avisado, né?

Volto para o meu canto com as bananas e a canela descendo quadrado. Passamos horas, dias e até semanas rememorando o fato, e rindo do ocorrido. Cada vez que me levanto, alguém pergunta se eu não quero uma pitada de canela. Decidimos comprar outro microondas, separando assim os itens de uso e evitando incomodar a honra de Presto. Presto aproveita o ocorrido e redige um bilhete em letras garrafais, visível a qualquer passante, dizendo que a canela tem dono e proprietário.

Começamos a fantasiar com cerimônias inteiras cheias de montanhas de canela em cima de Presto, onde ela poderá sentir a vibe da prosperidade e abundância que esse item pode nos proporcionar. Estamos no meio desse processo, quando surge em nossas vidas o Dênis, um cara muito tranquilo e da paz, que está prestando uma manutenção básica aqui no nosso local de trabalho. Dênis tá aqui há bons dias já, troca ideia só quando chamamos e aparentemente ele gosta de cantarolar.

Presto decide que a cantoria de Dênis é excessivamente ruidosa, e percorre – não vou mentir – no mínimo 40metros até encontrá-lo, chama-o e pede que ele pare de cantar, pois está atrapalhando o seu serviço. E percorre novamente a mesma distância até o seu local de trabalho.

Imediatamente todo mundo se compadece do ocorrido e começa a emanar vibes de muita raiva em cima de Presto. Se hoje Presto for fazer alguma tentativa de magia, é certo que lhe sairá um pinscher raivoso de dentro da cartola. E se karma existe, uma tonelada de canela em pó, cobrindo-o inteiramente, fazendo-o engasgar e ter que limpar as pestanas, para saber o que é ter canela à vontade na vida.

Já o meu karma, certamente, aumenta quando fico imaginando Presto coberto de canela e com o cântico de mil Dênis na sua descida ao reino do inferno.

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