
Eu comecei a identificar uma descida ladeira abaixo no dia 14 de junho deste ano, quando cheguei à casa de meu avô, 130km distantes da minha, marinex de sobremesa em punho, para uma festa que só aconteceria 2 dias depois.
Dali, fui para uma consulta médica 7 dias antes, alguns mal-entendidos conjugais que me fizeram andar a pé quando ele deveria me buscar de carro e outras ninharias assim, culminando comigo tomando banho gelado sem ver que não ligara a água quente do chuveiro.
Logo eu, que sempre me orgulhei de ser uma pessoa diligente, memória afiada e praticamente infalível. Nunca havia precisado de um backup fora da cabeça, pois eu armazenava tudo e mais um pouco com facilidade.
Mas isso não era tudo, embora já fosse bastante coisa: passei a sentir uma névoa esquisita no meu cérebro, o famoso brainfog, de uma maneira muito nítida e incômoda. Embora possuísse mil atividades e afazeres, eu não conseguia parar e ficar em nenhuma, o que não me trouxe nenhum prejuízo mais óbvio, porém eu sabia que estava deixando brechas e pontas soltas por aí.
Eu chego para trabalhar entre 11h e 12h, e costumo almoçar no máximo até 13h, algo balanceado e nutritivo feito por mim mesma. E havia definido que não beberia mais café durante a tarde, pois estava com o sono muito leve à noite. Só que troquei o café por copinhos de amendoim açucarado que meus colegas fazem no microondas, fatias de bolos de aniversário (parece que sempre tem alguém de aniversário), chocolates compartilhados após o almoço e outras ninharias do tipo.
Entre ir para a Escandinávia e voltar, me operar e ficar em casa com caixas e latinhas de doces importados recém trazidos, estamos falando de pelo menos uns 100 dias de açúcar diariamente, nas suas formas mais escancaradas, refinadas e cremosas. Eu rapidamente me tornei dependente daquela dosezinha recorrente, a cada mais ou menos 3h, o que não deixa de ser irônico, se você pensar que muitos profissionais recomendam comer de 3h em 3h. Só que provavelmente, não se referiam a cookies, pão com geleia, bombom cremoso da Lindt e outras ninharias.
Por não ter problemas com excesso de peso, eu demoro a sacar que deveria agir diferente; socialmente, todo mundo me incentiva dizendo “que você pode, tá magrinha”, e qualquer outra resposta padrão. Mas na quinta-feira passada, saindo da minha médica endocrinologista com mais um diagnóstico “normal”, e me sentindo constantemente numa névoa, eu decidi que precisava fazer algo diferente.
Quando você já fez grandes coisas na sua vida, ajustou bem sua rotina, fica mais difícil cada pequeno degrau. Você começa a cortar na carne, naquela fronteira final que você foi passando várias outras coisas na frente, afinal você já fez muitas mudanças.
Sem açúcar, então.
Quando me refiro a sem açúcar, estou falando do óbvio: doces, chocolates, balas, geleias, bolos e por aí vai. Não estou falando de frutas nem de batata-doce. Não estou falando de álcool (pelo menos ainda não), nem de outras fontes de carboidrato como arroz ou tapioca. Também não estou disposta a me atirar em pilhas de xylitol e opções zero açúcar, ainda que não possa desdenhar tão rapidamente – talvez em algum dia seja uma boa bengala. Não sei. Também estou me dando um tempo do meu amado mel.
Pesquisei alguns livros que até já tinha em casa e caí no “desafio” sem açúcar da Sarah Wilson, que escreveu um livro com um protocolo de 8 semanas em que ensina a tirar o açúcar gradativamente. Achei algumas coisas legais, outras ferem meus princípios. Não vou ficar sem frutas e muito menos restringir meu consumo a morangos, coco e abacate. Já tive minha cota de lowcarb nessa vida, não pretendo voltar.
Por quantos dias? Boa pergunta. Achei 8 semanas um bom alvo, porém não estou vendo essa mudança como algo com data pra acabar. Na verdade, estou entendendo a necessidade de limar uma rebarba grande na minha alimentação e sobre a qual passei anos sem mexer. Com a depressão, ninguém recomenda você a fugir de carboidratos, e os doces foram um pilar enorme do meu frágil edifício mental. Mas já tem mais de um ano que não tomo mais remédios e está tudo no lugar.
O que precisa voltar para o lugar, sem dúvida, é a minha cognição. Hoje é o quinto dia, desde que me propus a ficar sem comer. Já desviei de pudim de leite, bolo, bolachinhas, skittles e pipoca caramelizada. Hoje de manhã, inocentemente, aceitei o chá de maçã com canela da minha professora de yoga, e tomei uns golinhos para não ser rude (joguei mais da metade fora, desculpa por isso Andressa). Não sinto nenhuma vontade louca, e de verdade, estou sentindo uma ligeira melhora na minha disposição em geral, ainda que seja cedo para realmente perceber.
O que eu já anotei e estarei observando com muita minúcia nos próximos dias: o aspecto da minha pele (com bastante acne), a minha digestão (há anos eu monitoro minhas eliminações e até já contei um pouco disso nesse post aqui), e meu humor/apetite.
Se tem uma coisa que eu não sou nessa vida, é conformada. Não há diagnóstico “normal” que me satisfaça, se eu sei que não me sinto bem.